quarta-feira, 13 de abril de 2011

Respostas do Quarto Teste

4) "A Última Nau" é um poema de Fernando Pessoa incluído na sua obra Mensagem. O sujeito poético inicia o poema com a despedida de D. Sebastião e as lágrimas e saudade dos que o vêem a partir e aguardam com ânsia o seu regresso. Os primeiros quatro versos referem-se a esta despedida sob um sol aziago e os dois seguintes ao sentimento de saudade (e suas emoções derivadas) experienciado pelos que dele se despedem. Na segunda estrofe, Pessoa informa que o Rei não voltou e refere-se a uma ilha à qual o Rei terá aportado (interpreto como a "indiscoberta" ilha da morte ou a eterna ilha da saudade) e questiona se o Rei voltará algum dia. Quando o poeta referencia o "sonho escuro/ e breve", pode estar a referir-se a um reinado longo que D. Sebastião teria ainda pela frente, mas que, devido ao incidente da batalha de Alcácer-Quibir, se tornou curto (breve) e neste caso o sonho não o iluminou, mas, pelo contrário, levou à sua perdição. Na terceira estrofe, o sujeito poético refere-se ao povo português como um povo com "falta de alma", isto é, com pouca vontade de lutar, com poucas ambições e muita resignação e conclui que o mar não tem tempo ou espaço (é o mesmo de há muitos séculos e não mudou de aparência), por isso a qualquer momento espera o regresso do Rei, que é o regresso da esperança por um povo que acredita que ainda não está perdido. Na última estrofe, o sujeito poético fala do "quinto império" que está por surgir ("Não sei a hora, mas sei que há a hora") e que surgirá como um sol que vai raiar, dissipando as trevas da névoa.

6) Neste poema existe um contraste evidente entre o passado glorioso, um presente obscuro e um futuro incerto, mas carregado de optimismo na perspectiva de Pessoa. O passado (nomeadamente o tempo dos Descobrimentos em que Portugal e Espanha foram incontestáveis potências), é referido por Pessoa como um possível futuro, com Portugal a ser uma grande potência: "E erguendo, como um nome, alto o pendão/ Do império" que é o passado do império português e " Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora/ Mistério/ Surges ao sol em mim, e a névoa finda" indica um futuro próspero para a nação portuguesa, em que o sol vai quebrar a rotina estável com que a névoa cobre um Portugal do presente. Complementarmente, o sujeito poético não espera o regresso físico do Rei D. Sebastião, mas espera o regresso do espírito revolucionário, inovador, criativo e favorável aos "Reis D. Sebastiões" do futuro, que possam levar Portugal a um império como foi no passado: [será] o quinto império.

Tomás Pereira

quinta-feira, 7 de abril de 2011

4º Teste

3.
 O estado de espirito que invade o Poeta é como um acordar da ebriedade, ele diz "Não mais musa, não mais...". Depois de ter cantado e celebrado os feitos e as histórias lusitanas, o Poeta volta a si cansado e ressacado do turbilhão de êxtase a que esteve sujeito, mas que no fim, em pouca glória acaba, levando-o ao desalento e vê que veio "cantar a gente surda e endurecida". 
 O Poeta demarca-se dos momentos de optimismo que apresentava na Preposição, na Invocação e na Dedicatória, demarca-se do tom épico patente na obra que nos fala dos valorosos feitos mas aos quais ainda faltam a Glória.  O Poeta cansa-se, o Poeta tenta alertar para o pouco serviço prestado à pátria das gentes que o ouvem, das gentes que estão entre ele e o Rei, D. Sebastião.
 Camões volta desse mundo tão valoroso português que quando encontra e se confronta com o que vê deixa-se desanimado, e nem mesmo a Musa, nem mesmo o engenho podem conseguir faze-lo continuar a cantar,  se então a pátria se abstiver de concretizar "nobres" feitos.

5.
 Na celebração literária portuguesa a "Ilha Indescoberta" de Fernando Pessoa, poderá ser correspondente à "Ilha dos Amores" de Camões e, assim sendo, representando a "Ilha dos Amores" um espaço em que os marinheiros se uniam transcendentalmente, quer pela carne, quer pelo espírito, com Ninfas, se a nau que leva D. Sebastião lá aportou, então, o poema fala-nos de uma certa mística do que é ser português, em que o amor ocupa um lugar cimeiro e em que a nobreza de espírito é algo patente, conferindo assim, a este poema uma espécie de presságio de um triunfo desse Português Grandioso que reside no sonho de cada um e em que as vitórias não são recompensadas em espaços mundanos mas sim em espaços transcendentais.

6.
 Grandes feitos foram realizados e está na sina da alma portuguesa almejar a realização de mais. O grande império conquistado foi engolido pela decadência.
 O passado guarda em si a capacidade que o português tem em dominar o mundo, grandes almas, valentes reis, príncipes apaixonados e poetas proféticos derrotados. A qualidade chegou na conquista do mundo corpóreo nesse passado e há de chegar para conquistar o mundo transcendentalmente, no futuro.
 O desaparecimento de D. Sebastião marcou para sempre um presente incerto em que, no futuro, apenas de pode esperar pelo seu regresso. É um futuro permanentemente futuro.
 O presente é criticado austeramente pela pequenez que encerra dês do declínio do Império que acontece com o desaparecimento de D. Sebastião no passado, e assim, o futuro é exultado na esperança do regresso do Salvador do Império, que, morto fisicamente, o seu retorno será marcar na alma de cada um a capacidade da glória em impor o sentimento português ao Mundo.

7.
Concordo com o texto de António José Saraiva, isto porque se vêm Os Lusíadas como uma obra em que é procurada uma critica, um "discurso" que se desenvolve, em que, primeiramente, se mostra o valor que o rei tem em si e a pós isso, são demonstrados todos os feitos realizados pela pátria, que se conclui quando o Poeta retorna a dirigir-se ao jovem rei fechando a sua argumentação, profetizando o que o rei ainda pode fazer e o que deve alterar em si.
 Assim, podemos olhar para Os Lusíadas, não só como uma exultação da pátria, são só como epopeia, não só como um texto lírico, mas também como uma obra que serve de manual a esse jovem rei, para saber como conduzir a pátria, com deve amar, como deve honrar o lugar divino que lhe foi designado, e por final, como deve ser, enquanto homem, enquanto português.

luis metello

terça-feira, 22 de março de 2011

Análise D.Tareja

(...) D. Tareja de Fernando Pessoa, trata-se da súplica derradeira do português ao feminino. Uma tentativa de reconciliação para com a figura maternal, para que esta liberte o homem português desse castigo que o condena a gerir dentro de si quer a alma de Édipo, quer um ódio à terra poética que o envolve e que nas suas paisagens românticas o isolam, apenas as podendo colorir nesses desejos literários que pautam de estética o seu amor, tornando-o incapaz de ser correspondido face ao teor titânico e doentio que este seu lado toma.
 São estes castigos que o fazem procurar o mar, já que face a uma viagem a companhia desejada vê-se temporariamente adiada dentro do seu desejo, mas nunca apagada. Provocando no homem português uma imaturidade própria de um apaixonado.
 O homem português sofre assim uma castração na sua vontade, ficando preso a ideais mundanos de adquirir transcendentalidade, estando assim condenado ao insucesso e á permanente necessidade de salvação, num Portugal melancólico.
 Fernando Pessoa faz então este pedido de perdão e apaziguamento, para a recriação do sentido de ser português, apartir da misericórdia materna, anteriormente afrontada, esquecendo os desejos mundanos e assim alcançar uma satisfação transcedental.(...)

luis metello

segunda-feira, 21 de março de 2011

3º teste - respostas

Grupo I
3. A partir desta citação de Álvaro de Campos sobre o seu Mestre Alberto Caeiro, podemos ver muitas das características que identificam este poeta.
A felicidade que Caeiro tem presente apenas por poder ver “flores, campos largos, águas com sol”, leva-nos a perceber que este poeta é feliz apenas por existir e poder sentir todas as emoções que a natureza nos proporciona, sem qualquer tipo de intelectualização destas emoções e destas maravilhas naturais.
Através da quarta estrofe do poema V, vemos como Caeiro aprecia as árvores e a sua “metafísica”, que é apenas a de existirem: não têm qualquer sentido para a vida, não vivem a nostalgia do passado e não tem medo da vida, nem da morte.
Caeiro identifica-se com a Natureza, como se também fizesse parte dela, como se fosse um rio ou uma árvore. Isto porquê? Porque o seu único propósito é existir, apreciar a vida e o presente.
Esta felicidade e alegria de viver é tão evidente que Álvaro de Campos diz que a expressão da boca era a última coisa em que se reparava, porque o “sorriso de existir” presente em Caeiro era muito mais evidente do que o que este dizia e explicava aos outros heterónimos pessoanos.
Assim, Alberto Caeiro era o Mestre porque era o único capaz de apreciar as pequenas coisas e ser feliz apenas por existir. Sendo então, um verdadeiro exemplo para os outros heterónimos.

Grupo II
2.1. Neste poema podemos ver uma grande oposição entre o “interior” e o “exterior”.
Existe realmente um grande contraste. O “exterior”, o que está “aberto” ao mundo, deverá ser bonito, deverá dar uma ideia de que tudo está bem. “Flores são as mais risonhas / Para que te conheçam assim”, “Faze canteiros como os outros têm, / Onde os olhares possam entrever”, são algumas das passagens do poema que mostram a tentativa do poeta de parecer feliz perante os outros e perante o mundo. Esta “personagem” que é passada para o exterior não é verdadeiramente Fernando Pessoa mas sim um dos heterónimos por este criados.
Já no “interior”, o poeta é uma pessoa triste e que vive angustiada. “Onde ninguém o vir não ponhas nada”, “onde és teu, e nunca ninguém o vê, / Deixa as flores que vêm do chão crescer / E deixa as ervas medrar” e “Um jardim ostensivo e reservado” são alguns exemplos do que verdadeiramente é Fernando Pessoa: alguém sozinho, angustiado e infeliz, isto porque, é no seu “interior” que Fernando Pessoa está fragmentado e perdeu a sua identidade, é no seu “interior” que vive a angústia de já não ser apenas uma unidade e de não ter qualquer controlo sobre si próprio.
Talvez esta seja uma das razões porque Pessoa é considerado o “poeta fingidor” pois, para o que lhe é “exterior” mostra alguém feliz que na verdade, no seu “interior”, não existe.

Carolina Simão
3º Teste
Grupo II
1.

O primeiro verso do poema está no imperativo e dá uma instrução ao destinatário, "Cerca de grandes muros quem te sonhas".
 Esta instrução trata-se de  um conselho, o poeta diz ao destinatário, para isolar do exterior aquele que este se imagina ser, portanto, o destinatário deve adoptar esta regra na sua vivência, deixando o seu interior resguardado, sem no entanto deixar de mostrar alguns dos seus pequenos laivos entre frestas.
 O poema irá fecundar-se apartir desta distinção que deve ser feita na dualidade interior/ exterior que nos compõe. Contudo, este verso inicial é fundamental, na medida que, funciona como uma primeira premissa sobre a qual o resto do conselho, do poeta, deriva.
 Isolar e proteger a pessoa que pensamos ser, distinguindo então no final desta divisão o nosso exterior e o nosso exterior.


luis metello

domingo, 20 de março de 2011

"Mas todo o vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria"

A crise com que nos deparamos actualmente não vem de agora. Já no tempo de Fernando Pessoa havia crise. Talvez o infante que se fala no poema de D. Tareja, seja o Portugal pouco amadurecido que cedo foi largado do colo da mãe e do seu peito. É curioso quando Pessoa fala de peito, já que os bebés mais saudáveis são os que mais tempo estiveram a mamar do leite das suas mães...será que então o poeta tenta transmitir-nos que devemos voltar a ouvir quem tem experiência, sabedoria e nos quer bem( a nossa mãe )? Será o caminho de um novo Portugal, forte e maduro?

Mariana Freire

Sobre o teste e Alberto Caeiro

1. “Há metaphysica bastante em não pensar em nada”. Esta frase de Alberto Caeiro traduz em grande parte toda a sua personalidade e estrutura mental. Embora seja um heterónimo de Fernando Pessoa, este é considerado pelo próprio Pessoa como o Mestre, por ser alguém que o poeta gostaria de ser; feliz, por nada procurar nem por se basear em nada do Universo. Guiando-se apenas pelas sensações, Caeiro nega a existência de tudo aquilo que está “(…) para além da linha do horizonte”, ou seja, o que está para além daquilo que os seu olhos pensam ver. Porque se não vê, é obrigado a pensar, e pensar é algo que Alberto Caeiro recusa: “Pensar incomoda como andar à chuva”, exclama o heterónimo no seu Poema Primeiro. No entanto ele pensar, ao raciocinar que não pensa daí a frase “Há metaphysica bastante em não pensar em nada”, já que esta recusa é como uma anti-metaphysica em que Caeiro se baseia para se opor à própria metaphysica tão típica dos filósofos e pensadores que despreza. A conclusão final é então: para Alberto Caeiro, não pensar contém a existência da própria metaphysica.

Mariana Freire

Respostas do 2º teste de Português

Grupo I


1. "Há metaphysica bastante em não pensar em nada."
Como estudámos, Alberto Caeiro era um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Apesar da sua fraca instrução, Caeiro era considerado o "mestre" de todos os outros. A linguagem utilizada na sua poesia era pouco rebuscada pois o poeta procurava apresentar factos e apenas concluir acerca dos mesmos e tudo isto sem uma grande dimensão linguística, era tudo bastante simples e claro. Este aspecto acerca da maneira de escrever de Caeiro tinha muito, senão tudo a ver como e maneira como ele "pensava". Era um homem simples, dispensava qualquer acto de pensamento e limitava-se a observar o mundo à sua volta com a maior simplicidade de todas. Se Caeiro afirmava que o Sol era amarelo, era porque um dia ele tinha visto que de facto o sol era amarelo, logo a explicação para essa afirmação era feita exactamente a partir dessa simples observação por parte do poeta. Muitos escrevem sobre o facto de Alberto Caeiro ser um antimetafísico e talvez tenham razão. Curiosamente, este poema vai ligar-se directamente a este aspecto, nomeadamente logo a primeira estrofe que está exposta como uma ideia muito clara e concisa relativemente à ideologia do poeta. Por outras palavras, e tentando explicar da melhor forma, a primeira estrofe é uma tradução directa do que vem da cabeça de Caeiro. De certo modo, ele afirma que "pensar em nada" já é suficiente e põe em causa a existência da metafísica. Para Caeiro, o simples facto de observar e sentir o mundo envolvente é esclarecedor e é o suficiente para ele. Não sente qualquer necessidade em procurar explicações lógicas para o porquê das coisas. Orienta-se simplesmente pelos sentidos e é este pequeno grande pormenor que espelha a sua poesia e a torna tão peculiar.


Grupo II


2. Neste poema surge uma oposição entre o interior e o exterior. Estes dois termos presentes na oposição podem relacionar-se com o sonho e com a realidade respectivamente. A divisão feita entre o interior e o exterior é com uma recomendação para a vida. Enfrentar a realidade tal como ela é, não fugir à normalidade e actuar sobre parâmetros não muito diferentes dos dos outros. Por outro lado, sonhar é criar um mundo prório a que ninguém tem acesso. Um mundo tão peculiar onde tudo nasce naturalmente, onde a realidade desejada surge como um desejo profundo da nossa existência. Somos um "duplo ser guardado" onde vive uma realidade e voa sobre ela um sonho. A realidade que todos vêem e o sonho que faz dos outros cegos.


Rita Ralão, nº 23

sábado, 19 de março de 2011

V - Há metafísica bastante em não pensar em nada.

V

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

«Constituição íntima das coisas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

Conselho

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.


Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.


Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...

Fernando Pessoa



sexta-feira, 18 de março de 2011

Resposta 2.1

2.1. A grande oposição que se encontra no poema é a distinção - interior e exterior. Para o poeta, o interior remete a tudo o que não é visível aos olhos dos outros. O que é visível apenas aos nossos olhos, remete-nos para os nossos sonhos e ambições, remete-nos para nós mesmos: aquilo que realmente somos. A verdade do eu. É no interior que desaparecem todas as "máscaras" que a sociedade nos obriga a usar. Quero com isto dizer que temos que ser aquilo que a sociedade quer de nós, e não o contrário. Essa máscara está repleta de mentiras sobre nós mesmos, é um segundo eu em que agimos e fazemos tudo aquilos que os outros esperam de nós. A realidade, é, no entanto, uma mentira em que deixamos de ser nós mesmos. Como podemos verificar com o texto "Faze canteiros como os que os outros têm; onde os olhares possam entrever; o teu jardim como lho vais mostrar".
Quando falamos do interior, despertamos do verdadeiro eu. O Eu sem mentiras, sem máscaras. O Eu verdadeiramente real. É no nosso próprio mundo, no nosso mundo interior que podemos ser tudo aquilo que desejamos sem medo do que os outros podem pensar. Como podemos verificar no texto " Mas onde és teu, e nunca o vê ninguem; deixa as flores que vêm do chão crescer, e deixa as ervas naturais medrar.
o poeta afirma também " Faze de ti um duplo ser guardado; e que ninguem, que veja e fite, possa; Saber mais que um jardim de quem tu és; um jardim ostensivo e reservado", que quer dizer que é importante existirem "dois eus", "dois seres guardados" e apenas o nosso eu não real é que podemos deixar transparecer à realidade.


Inês Guerra

Resposta 1 Conselho (Parte 2)

1. A meu ver, o primeiro verso "cerca de grandes mundos quem te sonhas" é certamente uma instrução, em que o poeta tem a necessidade de separar a realidade do sonho. Para ele, estes dois conceitos não são compatíveis, não podem coexistir, e desse modo necessitam de uma "barreira" para os separar, para os distinguir um do outro. O muro.
O sonho é algo pessoal que apenas nós controlamos. Podemos criá-lo, transformá-lo, modificá-lo ao nosso gosto. O sonho é a ambição. Aquilo que queremos ser e não somos, aquilo que queremos ter e não temos. É algo sem tabus, algo puro que só nós conhecemos. É aquilo que não se pode mostrar ao exterior. Já a realidade é tudo o que transparece, tudo o que damos a ver de nós aos outros. Ao contrário do sonho que embora controlado seja descontrolado (na medida em que desaparecem todos os tabus), a realidade tem que obrigatoriamente ser controlada. Apenas podemos mostrar e dar ao exterior aquilo que ele pode ver. Aquilo que é aceite. Todos os tabus existentes nos sonhos, são tabus para a realidade. Sendo assim, o "muro" separa a verdade da mentira,  o irreal do real, o puro do impuro.

Inês Guerra

Resposta 2 (parte 1)

2.Tudo aquilo que está para além da física (metafísica) é tudo aquilo que não se pode observar ou comprovar com os olhos. Como se sabe, Caeiro recusa-se a "ver" tudo aquilo que poderia estar por detrás do que é simplesmente observável. A meu ver, logo no primeiro verso "Há metaphysica bastante em não pensar em nada", Caeiro quer realmente dizer que, a única coisa que está para além do conceito metaphysica é o não pensar em nada, esse é o segredo de pensar no que está para além da física. Para Caeiro, tudo aquilo que é observado e interpretado pelo pensar deixa de ser puro, de ser real. Deste modo, podemos concluir que, para Caeiro, metaphysica não existe, pois não é real, e dela não se pode observar nada que seja verdadeiro e puro.

Inês Guerra

Resposta 1 (parte 1)

1. Alberto Caeiro é conhecido como o poeta "sensacionista". Para ele, compreender o mundo limita-se apenas ao que as sesanções nos dão: o que vemos, o que ouvimos, o que cheiramos, o que sentimos. Para Caeiro, nada mais há do que aquilo que se apresenta aos nossos olhos, e isso faz com que todos os mistérios desapareçam. É um poeta simples e objectivo, que apenas vê o mundo como ele é, e recusa-se a pensar no que está "por trás das coisas".
Esta atitude liberta-o da dor. A dor de pensar, a de envelhecer. Caeiro afirma também que pensar é um dos maiores erros dos Homens, daí afirmar, como podemos ver na primeira estrofe "Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso." Desta estrofe podemos ver que Caeiro não se interessa por aquilo que o Mundo "pode ser", mas sim "pelo que ele tem e que se pode ver". Pelo real. No momento em que Caeiro passasse a pensar sobre o mundo, passaria a contradizer tudo aquilo que anteriormente tinha defendido. Desse modo, consideraria-se doente por pensar.

Inês Guerra

Resposta 3 (parte I) - teste 12 de Fevereiro

Parte I
3. Nas "Notas para a recordação do Meu Mestre Caeiro" sabemos que Álvaro de Campos apresenta Caeiro como se fosse uma estátua e descreve-a muito pormenorizadamente, porque, de facto, há características em Caeiro que nos levam à figura estatuária, como a ausência de modulação, alguém sem interioridade, que sente sem pensar, que envelhece sem angústia, vive sem dor, é um ser uno e observa o mundo tal como ele é.
Na quarta estrofe deste poema, a certa altura, Caeiro escreve que "Quem está ao Sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o Sol", a estátua que anteriormente referi é uma figura com os olhos sempre abertos para o mundo e que o consegue ver nitidamente. Este fechar de olhos é olhar para o mundo interior o que de facto ela não tem e, por isso, quem olha para esse mundo interior pensa nas coisas e quem pensa não vê a realidade como ela é. Quando se volta a abrir os olhos volta-se a compreender as coisas, o que vale mais que os pensamentos.
Na citação de Álvaro de Campos, ele descreve a expressão da boca dessa estátua, ou seja, a boca de Caeiro, como sendo um sorriso de existir e não de falar, porque, como eu já referi anteriormente, Alberto Caeiro sente-se feliz porque consegue observar nitidamente a realidade e conforma-se com o que sente e vê e basta-lhe isso para se sentir bem e o facto de não ter pensamentos nem recordações faz com que não sofra de qualquer tipo de angústias.

Cátia Sousa

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

The Industrial Revolution (And How It Ruined My Life)

Letra:
Once, long ago there was a time in what now seems a distant land
Each small boutique was precious and unique
'Cause every little thing was made by hand
Then there came a revolution
The progress of production was its aim
Now instead of one, there were many
And each costs just a penny
But every single one looks just the same

Now there's a Starbucks on every bloody corner
McDonald's on everybody's street
There's a White Castle, Wendy's and Walmart
And then it all repeats
If you're the kind that looks down on the masses
Even for you there's a feint
Get some New Rocks or a pair of Docs
Look just like those who ain't

(Chorus)
And that is how (Tell us how)
It came to be (How can it be?)
After two long centuries
That in the name (What's in a name?)
Of human greed
The industrial revolution fixed everything for me
(Everyone) (For every bloody one)
It came into our lives and gave us uniformity by taking choice away from you (and me) 
(By taking choice away from you. Taking choice away from me. Taking choice away from you and me)

And so now if one does will with a business
They open two more and then three
They buy in bulk in big massive hulks
At which points it's nearly free
As they grow bigger their prices get lower
Until they become a chain
The smaller stores all shut their doors and buckle 'neath the strain

(Chorus)
And that is how (Tell us how)
It came to be (How can it be?)
After two long centuries
That in the name (What's in a name?)
Of human greed
The industrial revolution fixed everything for me
(Everyone) (For every bloody one)
It came into our lives and gave us uniformity by taking choice away from you (and me) 
(By taking choice away from you. Taking choice away from me. Taking choice away from you and me)

Now the machines are working tirelessly
Through all night and day
Making garbage in our image
For a world that's made our way
And they won't stop until every inch
From Peru to Bombay
Looks like a mall in the US of A

More lyrics: http://www.lyricsmania.com/the_industrial_revolution_and_how_it_ruined_my_life_lyrics_voltaire.html
All about Voltaire: http://www.musictory.com/music/Voltaire



Tomás Pereira