Parte I
3. Nas "Notas para a recordação do Meu Mestre Caeiro" sabemos que Álvaro de Campos apresenta Caeiro como se fosse uma estátua e descreve-a muito pormenorizadamente, porque, de facto, há características em Caeiro que nos levam à figura estatuária, como a ausência de modulação, alguém sem interioridade, que sente sem pensar, que envelhece sem angústia, vive sem dor, é um ser uno e observa o mundo tal como ele é.
Na quarta estrofe deste poema, a certa altura, Caeiro escreve que "Quem está ao Sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o Sol", a estátua que anteriormente referi é uma figura com os olhos sempre abertos para o mundo e que o consegue ver nitidamente. Este fechar de olhos é olhar para o mundo interior o que de facto ela não tem e, por isso, quem olha para esse mundo interior pensa nas coisas e quem pensa não vê a realidade como ela é. Quando se volta a abrir os olhos volta-se a compreender as coisas, o que vale mais que os pensamentos.
Na citação de Álvaro de Campos, ele descreve a expressão da boca dessa estátua, ou seja, a boca de Caeiro, como sendo um sorriso de existir e não de falar, porque, como eu já referi anteriormente, Alberto Caeiro sente-se feliz porque consegue observar nitidamente a realidade e conforma-se com o que sente e vê e basta-lhe isso para se sentir bem e o facto de não ter pensamentos nem recordações faz com que não sofra de qualquer tipo de angústias.
Cátia Sousa
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