domingo, 12 de dezembro de 2010

Resumo do Capítulo XXIV (Memorial do Convento)

   Blimunda esperava ansiosamente Baltasar, e, por desespero, foi à sua procura. No seu caminho pelos montes encontrou um frade que a persuadiu a passar a noite numas ruínas próximas ao convento. O frade tentou violar Blimunda, mas ela espetou um espigão entre as costelas do frade. Mais desesperada que antes, Blimunda regressa a casa passadas duas noites sem dormir convenientemente.
   O capítulo termina com o rei que, festejando o seu quadragésimo primeiro aniversário, foi consagrar o monumento a Mafra com o resto do seu cortejo, constituído por personalidades de alta importância do clero.

Tomás Pereira

sábado, 4 de dezembro de 2010

Antropofagias

Texto 6

Não se esqueçam de uma energia bruta e de uma certa/
maneira delicada de colocá-la no «espaço»/
ponham-na a andar a correr a saber/
sobre linhas curvas e linhas rectas «fulminantes»/
ponham-na sobre patins com o stique e a bola como/
«ponto de referência» ou como «pretexto espaço-tempo»/
para aplicação da «dança»/
experimentem uma ou duas vezes ou três reter determinada/
«imagem» e metam-na «para dentro» assim imóvel/
e fiquem parados «aí» com a imagem parada talvez brilhando/
é qualquer coisa como uma sagrada suspensão/
e abrindo os olhos então o jogo retoma a imagem/
que entretanto ficou incrustada no escuro a brilhar sempre/
e dela «parece» que o movimento parte de novo/
é uma «linguagem» e energia e delicadeza atravessam o ar/
espectáculo do «verbo primeiro e último» apanhem a figura «absoluta»/
do pé esquerdo o patim refulge a mão direita «prolonga-se»/
vamos achar bem que o stique seja a «respiração»/
extrema e extensa/
a bola põe-se a «caligrafar» todo um sistema de planos/
intensos leves/
«metáfora» decerto minuto a minuto destruída pela pergunta/
«que jogo é este para o entendimento dos olhos?»/
a resposta «alegria» tudo esgota/
mas só um sentimento de urgência corporal dá ao jogo/
uma «necessária dimensão»/
«o jogo respira?» perguntam  e diz-se «que respira»/
«então deixem-no lá viver» como se se tratasse de/
«uma criatura»/
podemos confundir «isto» com «acertar»?/
o jogo apenas acerta consigo mesmo e este acerto é o próprio/
«jogo»/
nele ressaltam só qualidades de acção força delicadeza/
envolvimento em si mesmo/
e o prazer de maquinar o universo numa restrita/
organização de linhas vividas em «imanência»/
de imagem em imagem se transfere o corpo/
sempre à beira de «ser» e parando e continuando/
e ainda «apagando e recomeçando» como se continuamente/
bebesse de si e tivesse o ar pequeno para demonstrar/
a grandeza de si a si mesmo/
«referido a quê senão ao absurdo de um espelho?»/
«a enviar-se» cerradamente entre os seus limites/
zona frequentada pela «ausência viva»/
destreza porque sim forma porque sim aplicação porque sim/
de tudo em tudo/
de nada em nada pelo gozo «básico» de «estar a ser» 

Herberto Helder, Antropofagias

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conselho

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.

Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
 
Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és -
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...
 
Fernando Pessoa

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Hermes


Hermes

«O gesto era branco, o sorriso era como era, a voz era igual, lançada num tom de quem não procura senão dizer o que está dizendo - nem alta nem baixa, clara, livre de intenções, de hesitações, de timidezas. O olhar azul não sabia deixar de fitar. Se a nossa observação estranhava qualquer cousa, encontrava-a: a testa, sem ser alta, era poderosamente branca. Repito: era pela sua brancura, que parecia maior que a da cara pálida, que tinha majestade. As mãos um pouco delgadas, mas não muito; a palma era larga. A expressão da boca, a última cousa em que se reparava - como se falar fôsse, para este homem, menos que existir -, era a de um sorriso como o que se atribui em verso ás cousas inanimadas belas, só porque nos agradam - flôres, campos largos, aguas com sol -, um sorriso de existir, e não de nos falar.»

Álvaro de Campos, "Notas para a Recordação do Meu Mestre Caeiro" 


Resposta ao "Conselho"

(escrito durante a aula)

Gostava que entrasses pelo portão, de rompante
Fechadura de duas chaves
Uma é minha.

As flores não falam
O sol cega-te e hoje não há luar
Para quebrar a rotina.

Pensas que sabes o que de melhor tenho
Sabendo eu que não o sabes
Tomara que soubesses
Tomara que o faças
Entra. Não saias mais.
Agora também é teu.
O melhor de mim.

Ana Olímpio, nº1, 12ºD