sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Conselho

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.

Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim com lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém,
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.
 
Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és -
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...
 
Fernando Pessoa

2 comentários:

  1. Tudo acaba. Esse Monstro carrancudo,
    Próle do Avérno, effeito do Peccado,
    Tudo a cinza reduz, brandindo, irado,
    Com sanguinosas mãos o ferro agudo.

    Oh fatal Desengano, horrendo, e mudo,
    Em pavorosos marmores gravado!
    Oh letreiros da Morte! Oh ley do Fado!
    He verdade, he verdade: acaba tudo.

    Eis o nosso miserrimo Destino:
    Assim o ordena quem nos Ceos impéra;
    Basta, adoremos o Poder Divino.

    Reprime os passos, caminhante, espera,
    E no Epitafio do infeliz Jozino
    Lê o teu nada, o que tu és pondéra

    du Bocage

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  2. Este comentário é dirigido ao comentário

    Gosto Muito

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