1. A meu ver, o primeiro verso "cerca de grandes mundos quem te sonhas" é certamente uma instrução, em que o poeta tem a necessidade de separar a realidade do sonho. Para ele, estes dois conceitos não são compatíveis, não podem coexistir, e desse modo necessitam de uma "barreira" para os separar, para os distinguir um do outro. O muro.
O sonho é algo pessoal que apenas nós controlamos. Podemos criá-lo, transformá-lo, modificá-lo ao nosso gosto. O sonho é a ambição. Aquilo que queremos ser e não somos, aquilo que queremos ter e não temos. É algo sem tabus, algo puro que só nós conhecemos. É aquilo que não se pode mostrar ao exterior. Já a realidade é tudo o que transparece, tudo o que damos a ver de nós aos outros. Ao contrário do sonho que embora controlado seja descontrolado (na medida em que desaparecem todos os tabus), a realidade tem que obrigatoriamente ser controlada. Apenas podemos mostrar e dar ao exterior aquilo que ele pode ver. Aquilo que é aceite. Todos os tabus existentes nos sonhos, são tabus para a realidade. Sendo assim, o "muro" separa a verdade da mentira, o irreal do real, o puro do impuro.
Inês Guerra
Inês Guerra
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