terça-feira, 22 de março de 2011

Análise D.Tareja

(...) D. Tareja de Fernando Pessoa, trata-se da súplica derradeira do português ao feminino. Uma tentativa de reconciliação para com a figura maternal, para que esta liberte o homem português desse castigo que o condena a gerir dentro de si quer a alma de Édipo, quer um ódio à terra poética que o envolve e que nas suas paisagens românticas o isolam, apenas as podendo colorir nesses desejos literários que pautam de estética o seu amor, tornando-o incapaz de ser correspondido face ao teor titânico e doentio que este seu lado toma.
 São estes castigos que o fazem procurar o mar, já que face a uma viagem a companhia desejada vê-se temporariamente adiada dentro do seu desejo, mas nunca apagada. Provocando no homem português uma imaturidade própria de um apaixonado.
 O homem português sofre assim uma castração na sua vontade, ficando preso a ideais mundanos de adquirir transcendentalidade, estando assim condenado ao insucesso e á permanente necessidade de salvação, num Portugal melancólico.
 Fernando Pessoa faz então este pedido de perdão e apaziguamento, para a recriação do sentido de ser português, apartir da misericórdia materna, anteriormente afrontada, esquecendo os desejos mundanos e assim alcançar uma satisfação transcedental.(...)

luis metello

segunda-feira, 21 de março de 2011

3º teste - respostas

Grupo I
3. A partir desta citação de Álvaro de Campos sobre o seu Mestre Alberto Caeiro, podemos ver muitas das características que identificam este poeta.
A felicidade que Caeiro tem presente apenas por poder ver “flores, campos largos, águas com sol”, leva-nos a perceber que este poeta é feliz apenas por existir e poder sentir todas as emoções que a natureza nos proporciona, sem qualquer tipo de intelectualização destas emoções e destas maravilhas naturais.
Através da quarta estrofe do poema V, vemos como Caeiro aprecia as árvores e a sua “metafísica”, que é apenas a de existirem: não têm qualquer sentido para a vida, não vivem a nostalgia do passado e não tem medo da vida, nem da morte.
Caeiro identifica-se com a Natureza, como se também fizesse parte dela, como se fosse um rio ou uma árvore. Isto porquê? Porque o seu único propósito é existir, apreciar a vida e o presente.
Esta felicidade e alegria de viver é tão evidente que Álvaro de Campos diz que a expressão da boca era a última coisa em que se reparava, porque o “sorriso de existir” presente em Caeiro era muito mais evidente do que o que este dizia e explicava aos outros heterónimos pessoanos.
Assim, Alberto Caeiro era o Mestre porque era o único capaz de apreciar as pequenas coisas e ser feliz apenas por existir. Sendo então, um verdadeiro exemplo para os outros heterónimos.

Grupo II
2.1. Neste poema podemos ver uma grande oposição entre o “interior” e o “exterior”.
Existe realmente um grande contraste. O “exterior”, o que está “aberto” ao mundo, deverá ser bonito, deverá dar uma ideia de que tudo está bem. “Flores são as mais risonhas / Para que te conheçam assim”, “Faze canteiros como os outros têm, / Onde os olhares possam entrever”, são algumas das passagens do poema que mostram a tentativa do poeta de parecer feliz perante os outros e perante o mundo. Esta “personagem” que é passada para o exterior não é verdadeiramente Fernando Pessoa mas sim um dos heterónimos por este criados.
Já no “interior”, o poeta é uma pessoa triste e que vive angustiada. “Onde ninguém o vir não ponhas nada”, “onde és teu, e nunca ninguém o vê, / Deixa as flores que vêm do chão crescer / E deixa as ervas medrar” e “Um jardim ostensivo e reservado” são alguns exemplos do que verdadeiramente é Fernando Pessoa: alguém sozinho, angustiado e infeliz, isto porque, é no seu “interior” que Fernando Pessoa está fragmentado e perdeu a sua identidade, é no seu “interior” que vive a angústia de já não ser apenas uma unidade e de não ter qualquer controlo sobre si próprio.
Talvez esta seja uma das razões porque Pessoa é considerado o “poeta fingidor” pois, para o que lhe é “exterior” mostra alguém feliz que na verdade, no seu “interior”, não existe.

Carolina Simão
3º Teste
Grupo II
1.

O primeiro verso do poema está no imperativo e dá uma instrução ao destinatário, "Cerca de grandes muros quem te sonhas".
 Esta instrução trata-se de  um conselho, o poeta diz ao destinatário, para isolar do exterior aquele que este se imagina ser, portanto, o destinatário deve adoptar esta regra na sua vivência, deixando o seu interior resguardado, sem no entanto deixar de mostrar alguns dos seus pequenos laivos entre frestas.
 O poema irá fecundar-se apartir desta distinção que deve ser feita na dualidade interior/ exterior que nos compõe. Contudo, este verso inicial é fundamental, na medida que, funciona como uma primeira premissa sobre a qual o resto do conselho, do poeta, deriva.
 Isolar e proteger a pessoa que pensamos ser, distinguindo então no final desta divisão o nosso exterior e o nosso exterior.


luis metello

domingo, 20 de março de 2011

"Mas todo o vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria"

A crise com que nos deparamos actualmente não vem de agora. Já no tempo de Fernando Pessoa havia crise. Talvez o infante que se fala no poema de D. Tareja, seja o Portugal pouco amadurecido que cedo foi largado do colo da mãe e do seu peito. É curioso quando Pessoa fala de peito, já que os bebés mais saudáveis são os que mais tempo estiveram a mamar do leite das suas mães...será que então o poeta tenta transmitir-nos que devemos voltar a ouvir quem tem experiência, sabedoria e nos quer bem( a nossa mãe )? Será o caminho de um novo Portugal, forte e maduro?

Mariana Freire

Sobre o teste e Alberto Caeiro

1. “Há metaphysica bastante em não pensar em nada”. Esta frase de Alberto Caeiro traduz em grande parte toda a sua personalidade e estrutura mental. Embora seja um heterónimo de Fernando Pessoa, este é considerado pelo próprio Pessoa como o Mestre, por ser alguém que o poeta gostaria de ser; feliz, por nada procurar nem por se basear em nada do Universo. Guiando-se apenas pelas sensações, Caeiro nega a existência de tudo aquilo que está “(…) para além da linha do horizonte”, ou seja, o que está para além daquilo que os seu olhos pensam ver. Porque se não vê, é obrigado a pensar, e pensar é algo que Alberto Caeiro recusa: “Pensar incomoda como andar à chuva”, exclama o heterónimo no seu Poema Primeiro. No entanto ele pensar, ao raciocinar que não pensa daí a frase “Há metaphysica bastante em não pensar em nada”, já que esta recusa é como uma anti-metaphysica em que Caeiro se baseia para se opor à própria metaphysica tão típica dos filósofos e pensadores que despreza. A conclusão final é então: para Alberto Caeiro, não pensar contém a existência da própria metaphysica.

Mariana Freire

Respostas do 2º teste de Português

Grupo I


1. "Há metaphysica bastante em não pensar em nada."
Como estudámos, Alberto Caeiro era um dos heterónimos de Fernando Pessoa. Apesar da sua fraca instrução, Caeiro era considerado o "mestre" de todos os outros. A linguagem utilizada na sua poesia era pouco rebuscada pois o poeta procurava apresentar factos e apenas concluir acerca dos mesmos e tudo isto sem uma grande dimensão linguística, era tudo bastante simples e claro. Este aspecto acerca da maneira de escrever de Caeiro tinha muito, senão tudo a ver como e maneira como ele "pensava". Era um homem simples, dispensava qualquer acto de pensamento e limitava-se a observar o mundo à sua volta com a maior simplicidade de todas. Se Caeiro afirmava que o Sol era amarelo, era porque um dia ele tinha visto que de facto o sol era amarelo, logo a explicação para essa afirmação era feita exactamente a partir dessa simples observação por parte do poeta. Muitos escrevem sobre o facto de Alberto Caeiro ser um antimetafísico e talvez tenham razão. Curiosamente, este poema vai ligar-se directamente a este aspecto, nomeadamente logo a primeira estrofe que está exposta como uma ideia muito clara e concisa relativemente à ideologia do poeta. Por outras palavras, e tentando explicar da melhor forma, a primeira estrofe é uma tradução directa do que vem da cabeça de Caeiro. De certo modo, ele afirma que "pensar em nada" já é suficiente e põe em causa a existência da metafísica. Para Caeiro, o simples facto de observar e sentir o mundo envolvente é esclarecedor e é o suficiente para ele. Não sente qualquer necessidade em procurar explicações lógicas para o porquê das coisas. Orienta-se simplesmente pelos sentidos e é este pequeno grande pormenor que espelha a sua poesia e a torna tão peculiar.


Grupo II


2. Neste poema surge uma oposição entre o interior e o exterior. Estes dois termos presentes na oposição podem relacionar-se com o sonho e com a realidade respectivamente. A divisão feita entre o interior e o exterior é com uma recomendação para a vida. Enfrentar a realidade tal como ela é, não fugir à normalidade e actuar sobre parâmetros não muito diferentes dos dos outros. Por outro lado, sonhar é criar um mundo prório a que ninguém tem acesso. Um mundo tão peculiar onde tudo nasce naturalmente, onde a realidade desejada surge como um desejo profundo da nossa existência. Somos um "duplo ser guardado" onde vive uma realidade e voa sobre ela um sonho. A realidade que todos vêem e o sonho que faz dos outros cegos.


Rita Ralão, nº 23

sábado, 19 de março de 2011

V - Há metafísica bastante em não pensar em nada.

V

Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).

O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

«Constituição íntima das coisas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos

Conselho

Cerca de grandes muros quem te sonhas.
Depois, onde é visível o jardim
Através do portão de grade dada,
Põe quantas flores são as mais risonhas,
Para que te conheçam só assim.
Onde ninguém o vir não ponhas nada.


Faze canteiros como os que outros têm,
Onde os olhares possam entrever
O teu jardim como lho vais mostrar.
Mas onde és teu, e nunca o vê ninguém
Deixa as flores que vêm do chão crescer
E deixa as ervas naturais medrar.


Faze de ti um duplo ser guardado;
E que ninguém, que veja e fite, possa
Saber mais que um jardim de quem tu és —
Um jardim ostensivo e reservado,
Por trás do qual a flor nativa roça
A erva tão pobre que nem tu a vês...

Fernando Pessoa



sexta-feira, 18 de março de 2011

Resposta 2.1

2.1. A grande oposição que se encontra no poema é a distinção - interior e exterior. Para o poeta, o interior remete a tudo o que não é visível aos olhos dos outros. O que é visível apenas aos nossos olhos, remete-nos para os nossos sonhos e ambições, remete-nos para nós mesmos: aquilo que realmente somos. A verdade do eu. É no interior que desaparecem todas as "máscaras" que a sociedade nos obriga a usar. Quero com isto dizer que temos que ser aquilo que a sociedade quer de nós, e não o contrário. Essa máscara está repleta de mentiras sobre nós mesmos, é um segundo eu em que agimos e fazemos tudo aquilos que os outros esperam de nós. A realidade, é, no entanto, uma mentira em que deixamos de ser nós mesmos. Como podemos verificar com o texto "Faze canteiros como os que os outros têm; onde os olhares possam entrever; o teu jardim como lho vais mostrar".
Quando falamos do interior, despertamos do verdadeiro eu. O Eu sem mentiras, sem máscaras. O Eu verdadeiramente real. É no nosso próprio mundo, no nosso mundo interior que podemos ser tudo aquilo que desejamos sem medo do que os outros podem pensar. Como podemos verificar no texto " Mas onde és teu, e nunca o vê ninguem; deixa as flores que vêm do chão crescer, e deixa as ervas naturais medrar.
o poeta afirma também " Faze de ti um duplo ser guardado; e que ninguem, que veja e fite, possa; Saber mais que um jardim de quem tu és; um jardim ostensivo e reservado", que quer dizer que é importante existirem "dois eus", "dois seres guardados" e apenas o nosso eu não real é que podemos deixar transparecer à realidade.


Inês Guerra

Resposta 1 Conselho (Parte 2)

1. A meu ver, o primeiro verso "cerca de grandes mundos quem te sonhas" é certamente uma instrução, em que o poeta tem a necessidade de separar a realidade do sonho. Para ele, estes dois conceitos não são compatíveis, não podem coexistir, e desse modo necessitam de uma "barreira" para os separar, para os distinguir um do outro. O muro.
O sonho é algo pessoal que apenas nós controlamos. Podemos criá-lo, transformá-lo, modificá-lo ao nosso gosto. O sonho é a ambição. Aquilo que queremos ser e não somos, aquilo que queremos ter e não temos. É algo sem tabus, algo puro que só nós conhecemos. É aquilo que não se pode mostrar ao exterior. Já a realidade é tudo o que transparece, tudo o que damos a ver de nós aos outros. Ao contrário do sonho que embora controlado seja descontrolado (na medida em que desaparecem todos os tabus), a realidade tem que obrigatoriamente ser controlada. Apenas podemos mostrar e dar ao exterior aquilo que ele pode ver. Aquilo que é aceite. Todos os tabus existentes nos sonhos, são tabus para a realidade. Sendo assim, o "muro" separa a verdade da mentira,  o irreal do real, o puro do impuro.

Inês Guerra

Resposta 2 (parte 1)

2.Tudo aquilo que está para além da física (metafísica) é tudo aquilo que não se pode observar ou comprovar com os olhos. Como se sabe, Caeiro recusa-se a "ver" tudo aquilo que poderia estar por detrás do que é simplesmente observável. A meu ver, logo no primeiro verso "Há metaphysica bastante em não pensar em nada", Caeiro quer realmente dizer que, a única coisa que está para além do conceito metaphysica é o não pensar em nada, esse é o segredo de pensar no que está para além da física. Para Caeiro, tudo aquilo que é observado e interpretado pelo pensar deixa de ser puro, de ser real. Deste modo, podemos concluir que, para Caeiro, metaphysica não existe, pois não é real, e dela não se pode observar nada que seja verdadeiro e puro.

Inês Guerra

Resposta 1 (parte 1)

1. Alberto Caeiro é conhecido como o poeta "sensacionista". Para ele, compreender o mundo limita-se apenas ao que as sesanções nos dão: o que vemos, o que ouvimos, o que cheiramos, o que sentimos. Para Caeiro, nada mais há do que aquilo que se apresenta aos nossos olhos, e isso faz com que todos os mistérios desapareçam. É um poeta simples e objectivo, que apenas vê o mundo como ele é, e recusa-se a pensar no que está "por trás das coisas".
Esta atitude liberta-o da dor. A dor de pensar, a de envelhecer. Caeiro afirma também que pensar é um dos maiores erros dos Homens, daí afirmar, como podemos ver na primeira estrofe "Sei lá o que penso do mundo! Se eu adoecesse pensaria nisso." Desta estrofe podemos ver que Caeiro não se interessa por aquilo que o Mundo "pode ser", mas sim "pelo que ele tem e que se pode ver". Pelo real. No momento em que Caeiro passasse a pensar sobre o mundo, passaria a contradizer tudo aquilo que anteriormente tinha defendido. Desse modo, consideraria-se doente por pensar.

Inês Guerra

Resposta 3 (parte I) - teste 12 de Fevereiro

Parte I
3. Nas "Notas para a recordação do Meu Mestre Caeiro" sabemos que Álvaro de Campos apresenta Caeiro como se fosse uma estátua e descreve-a muito pormenorizadamente, porque, de facto, há características em Caeiro que nos levam à figura estatuária, como a ausência de modulação, alguém sem interioridade, que sente sem pensar, que envelhece sem angústia, vive sem dor, é um ser uno e observa o mundo tal como ele é.
Na quarta estrofe deste poema, a certa altura, Caeiro escreve que "Quem está ao Sol e fecha os olhos, começa a não saber o que é o Sol", a estátua que anteriormente referi é uma figura com os olhos sempre abertos para o mundo e que o consegue ver nitidamente. Este fechar de olhos é olhar para o mundo interior o que de facto ela não tem e, por isso, quem olha para esse mundo interior pensa nas coisas e quem pensa não vê a realidade como ela é. Quando se volta a abrir os olhos volta-se a compreender as coisas, o que vale mais que os pensamentos.
Na citação de Álvaro de Campos, ele descreve a expressão da boca dessa estátua, ou seja, a boca de Caeiro, como sendo um sorriso de existir e não de falar, porque, como eu já referi anteriormente, Alberto Caeiro sente-se feliz porque consegue observar nitidamente a realidade e conforma-se com o que sente e vê e basta-lhe isso para se sentir bem e o facto de não ter pensamentos nem recordações faz com que não sofra de qualquer tipo de angústias.

Cátia Sousa